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A construção social do feminino

O modelo de família ocidental, embora venha sofrendo grandes mudanças nas últimas décadas, é desde o século XVIII, principalmente, com a valorização da infância e, consequentemente, da maternidade, baseado na configuração tradicional de pai, mãe e filhos.

 

Na cultura ocidental, a maternidade é ainda considerada como uma “missão” de vida da mulher. Para realizar-se como mulher e ser reconhecida como tal, há a necessidade de geração de prole.

 

A impossibilidade física de gerar um filho pode representar para a mulher não apenas um fracasso, mas a ausência de sentido de sua própria existência. O fato de não poder gerar um filho, seja por impossibilidades biológicas da mulher ou de seu companheiro, pode produzir uma serie de conflitos individuais e entre o casal.

A busca por tratamento para viabilizar a fecundação e/ou gestação evidencia o forte desejo de gerar um bebê que traga em si as características genéticas do casal. Esse desejo e a tentativa de realizá-lo implica em um contexto de expectativas, frustrações, dúvidas, esperanças, incertezas e, acima de tudo, provações diante das quais, na maioria das vezes, as mulheres se veem sozinhas e frágeis (embora, muitas vezes, contem com apoio dos companheiros e famílias).

 

A infertilidade levanta questões de cunho social, pois apontam para a necessidade de exercer a maternidade e realizar-se como mulher diante de sua comunidade. Também implica a questão existencial do ponto de vista das crenças religiosas, trazendo à tona os questionamentos sobre mérito, punição, expiação, etc, o que, por sua vez, pode colocar a mulher em uma posição de desobediência às ordens da natureza e de Deus. Dependendo de sua crença, a mulher que “insiste” em realizar o que a natureza ou Deus não lhe concedeu como direito, pode entrar em conflito interno com sua própria identidade.

 

Todo esse movimento, desde o momento da descoberta da infertilidade, o período de tratamento e, até mesmo, após a gestação e o parto, é carregado de angústias e desafios psicológicos que, se não conduzidos apropriadamente, podem gerar um sofrimento psíquico extremamente desgastante e destrutivo, tanto do ponto de vista da construção de sua identidade de gênero, quanto para sua relação conjugal – visto que a infertilidade é motivo de dissolução de casamentos.

 

Na vivência desse momento, do conflito entre o desejo de ser mãe e a impossibilidade biológica, a mulher se defronta com emoções contraditórias. A ansiedade, o medo, as expectativas e as frustrações são como alavancas que podem impulsionar distúrbios emocionais e de comportamento que passam a afetar a vida cotidiana, limitando as experiências e bloqueando possibilidades de aprendizado e crescimento emocional.

 

Compartilhar essa vivência com outras mulheres, em situações semelhantes, pode ser extremamente enriquecedor para o amadurecimento emocional e o fortalecimento psíquico.

 

A terapia de grupo é um espaço que proporciona a troca de experiências, ideias e apoio. A condução dos terapeutas garante uma mediação apropriada dessa troca e o direcionamento do grupo para as questões relevantes. As técnicas utilizadas têm como objetivo fazer emergir o que está submerso e redescobrir a essência do ser.

 

O autoconhecimento nos torna mais aptos a lidar com as adversidades, nos permite fazer escolhas e, principalmente, nos liberta das amarras invisíveis que nos bloqueiam os caminhos para a felicidade. 

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